quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Cláudia

 
O cheiro do sangue entope os pensamentos 
A raiva é fecundada e parida pela pátria 
Assassinos do cotidiano, 
Como um vírus que destrói toda vida por dentro 
O cheiro de sangue foi naturalizado como o odor da nossa sociedade
Argumentos e conceitos foram forjados e inventados para explicarem os atos 
Nada explica para um filho a morte de uma mãe e nada matura em uma mãe a morte de um filho
Os princípios de morte natural foram escritos os óbitos são assinados por fardas e Estados
A mentira se alastra com o peso da roupa anti bala, anti ética anti humano 
E seguramos a faixa da ordem e do progresso 
Tudo por um bem coletivo
Ninguém tira o veneno e o sangue dos olhos de uma criança que perdeu sua mãe arrastada pela rua
Decretamos: perdemos toda e possível dignidade
 
Na história invisível de um povo, Claúdia foi mais uma que entrou na estatística 
 
E mais um vez choramos sangue 


terça-feira, 19 de agosto de 2014

Filho meu...


Sabe aqueles monstros que insistem em assustar alguns dias? Aqueles que vivem de baixo da cama? Ou dentro dos armários ? Ou aqueles que batem nas janelas? Ou aqueles que assopram um medo nos ouvidos? 
Esses monstros não cumprem mais o seu papel assustador, pois juntos olhamos de baixo da cama, abrimos os armários e percebemos o vento batucando nas janelas, e quando sopram em nossos ouvidos cantamos e fazemos uma melodia 
Você me ensinou a ser corajosa, mesmo quando me afronto com os maiores medos, quando precisamos mudar e fazer das nossas vidas diferente
Você me ensinou a cantar na angústia e rir nas tristezas
Juntos 

domingo, 17 de agosto de 2014

Desfio

Essa melodia desenhada nos meus ouvidos
borrada e não contornada
esfumada em notas musicais
essa partitura não mais me toca
a cadência e a harmonia virou samba que não me cabe
o ritmo se perdeu em outros jardins
e a rede balança sozinha sem os corpos pesando
a luz se apaga
desfiando tristeza

Vestido Vermelho


Dia e noite, mulheres e vestidos
sapatos e bolsas, unhas pintadas e maquiagem no rosto
Corro para tentar alcançar.

Sem dinheiro para o salão invento de me fazer
Minhas unhas borradas, meus cabelos forjados
meu vestido vermelho desbotado e marcado de manchas
do tanque de lavar roupa
De tanto esfregar e esfregar meus vestidos e minhas mãos desbotaram
 
O Batom não faz minha boca ficar bonita
E meus óculos velhos não conseguem mais fazer seu papel de óculos
Salto alto não posso usar, machucam minha alma
Fico ofendida profundamente de não caber nas roupas da sociedade
Nada me cai bem, eu não caio bem

Mas o pior de tudo é ficar triste
Por não ter mais o vestido vermelho vivo de antes

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Rompendo os cordões


Nasci assim amarrada nas afetividades maternas
Meu olhos sempre refletiram a inocência a paciência a delicadeza
Delicadamente fui abrindo os olhos e as janelas
Sempre fui diferente ao meu tempo
Parece que não me cabe o mundo assim e
Mergulhei na imensidão da vida
me entorpeci por noites e me descubro dos cobertores desenhados por outras mãos e que não me acalentam mais
 contornos bem marcados
Quero ser fumaça que se propaga
Minhas lágrimas fazem enchentes onde os móveis risos escolhas bóiam
A violência me assusta
Mas agora me alimento dos gritos e minha retina dilata
Sou apaixonada de natureza pelas flores, sons, pessoas
Me ponho para amar diariamente
Meu amor é a decantação da violência vomitada no meu rosto
Meu sorriso as vezes se torna melancólico eu choro me agonio
Encontro os vazios
Mas continuo resistindo encontrando poesia nas palavras, na dança da outra
Atravesso com olhar e tiro a outra da estabilidade passional acostumada
Meu amor é minha armadura
Porque nasci assim com a sina de amar

Clarear


Minha alma vadia, na noite
na cantoria, no olhar
na saudade da boêmia 
do ontem, que não se enterra
do amanhã que a gente ainda espera
bonito
como sempre

terça-feira, 15 de abril de 2014

Romper




É confesso é muito mais cômodo e fácil estabelecer relações superficiais do que as profundas e complexas que permeiam o amor
os machucados causados pelas relações que não significam são superficiais, e o sentimento beira simpatia ou a raiva 
Mas a gente fala de amor, que está além da pele, o que está cravado nos órgãos e correndo nas veias as cicatrizes são profundas e demandam um tempo, tempo que talvez não temos
A dor é aguda como um grito fino suspenso no ar
Não existe o bem e mau, existentes condições postas na carne
Existe toda a complexidade de ser humano
Existe o silêncio doloroso existe as alegrias mais infinitas
Se a relação acaba existe o maior vazio do universo 

domingo, 13 de abril de 2014

Dose diária




Qual a dose necessária para o esquecimento?
Quanto mais vou entorpecer meus sentires?
Quantos dias preciso para poder cicatrizar as feridas expostas jorrando pus e escorrendo lágrimas?
Meus olhos secaram, as armaduras estão cada vez mais cimentadas estou vibrando no concreto 
Minha dança está vazia sem ritmo e descompassada 
Uma bailarina de caixinha de música desafinada dançando entre os espelhos trincados quebrados 
O pó tomou conta das cordas, a roupa rasgada e os pés cortados
Essa cruz que me deixaram está mais pesada do que o meu esqueleto pode sustentar
Drin don drin desafino desafino 
Fino como uma linha tênue da desistência 
Qual dose diária? Pra poder ter forças de me entorpecer novamente?

domingo, 6 de abril de 2014

Não estamos no caminho? Junto?

Na verdade não estamos conseguindo construir uma história nossa
Talvez eu tenha que seguir por um caminho sem as tuas mãos 
E quem sabe em um amanhã 
A gente consegue 
Fotos e memórias são as raízes que prendem o vôo 
E eu cansei de não plantar as minhas 

Pesado rosar




Nascida 
Rachada no meio das pernas 
Crescida entre as bonecas
De rosa e vestido prendida desde pequena
Carrega a cruz vermelha do pecado de: nascer menina
Lavar passar cozinhar trabalhar cuidar dar
Sentimento construído de servidoras
Prestadoras de serviços dessa sociedade machista patriarcal e doente
A santa da mãe 
Puta mulher
Princesa degolada 
Flor despedaçada 
Objeto de desejo 
Desejo e objeto 
Frágil coitada
Mulherzinha se serviços menores de vida 


 

quarta-feira, 19 de março de 2014

Pintura da saudade




Daquela janela eu consigo ver o balanço da árvore e o passar do trem
A lua sempre se encaixa no quadrante como se fosse um quadro 
Aquela janela é um recorte do nosso mundo,
Ela reflete nossos corpos e olhares se tornando cúmplice dos nossos mais profundos sentires
Ela aconchega meu corpo e segura minha cabeça entorpecida de desejo 
Em cima da pia e acalentada pela janela nos amamos noites
O limite era a lua que escutava os gemidos doce do teu corpo trêmulo 
Fomos aquarela viva dentro de um 
quadro que a janela recortava

Hoje passei do outro lado da janela tentando ver o quadro nosso das noites passadas
Ela estava aberta como se respirasse a saudade que eu sinto 
Não me acolheu, não me disse oi 
Ela era somente a janela de um prédio azul 
 

Dias sem Órgãos






Passado imperfeito 

O sorriso disfarça o caos de dentro
Está tudo bem eu repito e digo
Forço o olhar pra fora do corpo 
Tudo por um amor bendito. 

As pernas não aguentam o tranco
O esqueleto aguenta bravamente
A língua escorre na boca e tenta explicar e disfarçar a situação
A mente imóvel não tem mais o que dizer
Alma repousa do cansaço da dor
Um silêncio se dilata 
Tudo ficou quieto 
Tudo ficou 
E o passado se tornou imperfeito 

segunda-feira, 17 de março de 2014

Dias sem Órgãos




O Corpo
Dentro do meu corpo a aquarela se desfaz
todas as cores se diluem, os dias laranjas, vermelhos e amarelos
agora se misturaram e a tinta escura começa correr entre as vísceras
tomando conta de todos os canais
A respiração se fragmenta, e acontece uma ruptura entre os órgãos
Algo aconteceu, algo foi retirado
a decepção canta nos meus ouvidos um sim cadenciado e repetitivo
Se instaura um cheiro doce
a língua bloqueia as palavras de fugirem ou de se jogarem da boca
O suor agora corre junto ao sangue
as lágrimas encharcam o coração, que agora lentamente se afoga no seu próprio desespero
O corpo precisa correr e fugir
Mas permanece parado, sentindo todo o estar vivo em colapso
Os nervos em nó e as células se evaporam
O que se foi retirado precisa voltar, ou então esperar
se essa revolução vai maturar ou entrar em plena extinção

Dias sem Órgãos




Revolução de Estar

Eu quero amar, só pelo prazer de amar
Aprendi que amar não deveria
E se fosse para amar teria que ser como podia
Eu quero poder me jogar, sem medo e histerias
Ser alma ao  outro
Amar na potência da existência
Com todas as forças e as levezas
Não quero me prender, quero amar como plenitude de passáro
e profundeza de oceano
Quero brisa do carinho
Quero todos os seus anos na subjetividade das histórias
Quero saber tuas experiências sem me sentir dona delas
Quero que meu amor seja a nossa revolução

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Suspiros




Hoje estou em dores, nenhuma lágrima para me fazer companhia 
Estou parada no estreito da vida, tentando ver meu caminho 
Me perdi para me achar, mas cada vez mais estou distante de mim
Me perdi
Não sei para onde ir, nem como proceder
Parada aqui não posso ficar, os abutres se aproximam e as dores aumentam 
Vou desfalecer em vida?

sábado, 25 de janeiro de 2014

Alucinação




Perdemos nosso acalento
Nos acostumamos com o caos, massacres.
Aprendemos a contabilizar a morte, arquivar causas e mentir em laudos.
Inventamos doenças, patologias e vendemos as vacinas.
Fazemos compras nas farmácias e estocamos paracetamol.
Nos dopamos de imagens, doses diárias de alienação necessária para a continuidade da barbárie.
Viramos refém dos fantasmas que inventamos...
Estamos a serviço de que? De quem? E por favor alguém lúcido e doente mental nos jogue o caminho,
Prefiro agora as verdades dos loucos internados
Do que dos loucos soltos por algum motivo indecifrável. 

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Esquizofrenia




Uma inércia, um mergulho nas profundezas do embotamento de afetividades
Um estado de ruptura estranha que causa uma excitação inesperada que corta o corpo e esmaga o sangue, que confunde os órgãos 
E que me tira do estado mental saudável normal 
Vivo assim sem entender meu corpo na realidade, ou a realidade no meu corpo, corpo, realidade, entendimento 
Me perdi novamente nas palavras e nas ideias
Minhas mãos ganham forças? Ou eu perco o sentido das mãos e da força?
Eu olho e não vejo, abraço e não sou abraçado
Me perdi novamente
Mas tudo isso depende da frieza de dançar do tamanho da rua 
Depende das escadas e janelas!
Que janelas? Do que estava falando mesmo 
Me perdi novamente 

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Esperando




O olhar profundo, fadigado mas ao mesmo tempo ainda vivo, revelava que ali se guardava segredos
O estancar da respiração trazia um frescor de brisa em dia quente
A boca fazia leves movimentos, como se quisesse dizer sussurrando em algum ouvido os maiores segredos profundos fadigados de brisa em dia quente
Mas nada acontecia além de um esperar,
Na cadeira de balanço, olhava para um pequeno jardim meio vivo meio morto
Tudo por uma falta de cuidado
Em uma janela suja e trincada refletia seu reflexo
E ela pensava pesado, sou uma velha
Tudo por uma falta de cuidado

Dias profanos




Parecia que a vida não cabia dentro da pele, por isso uma vontade de ir além do que poderia ir. Quase uma criminosa, crimes oriundos, e profundos assim como o canal da sua vagina
Queria transpor a sensação de um orgasmo na própria maneira de viver, e assim partiu se partindo.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Deixa eu dançar




Vem desenhar na minha pele, nas minhas linhas decifrar todo meu esperanto, vem colorir meus seios, dar sentido ao meu sexo!
Segurar no meu quadril, e acariciar minhas coxas!
Vem inteiro, pra eu te receber inteiro
Vem sem demora, mas vem sem pressa! Vem inteiro
Sem vergonha, sem pudor, vem rebolando e dançando
Vem cantando e sorrindo, deixa suas cicatrizes que delas cuidamos mais tarde!
Agora só vem pra mim, vem descobrir meus braços novamente, vem indo e vindo mesmo
Vindo mesmo escorrendo pela minha boca
Rebolando na minha vida, cavalgando comigo nas terras intocáveis
Vem rindo que te quero bem, bem perto de mim
Vamos abrir as janelas e deixar a vida invadir, sem medo das avalanches
Vem planar no absurdo
Comigo

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Meus desenhos, meu altar




No meu corpo sinto na pele as cicatrizes de uma vida, vida minha
Sinto as pessoas que passaram, as pessoas que estão
As alegrias, as tristezas, suor, sangue, as lutas, as imagens...
Meu corpo desenhado meu altar
Feridas abertas ainda jorram pus, outras fechadas guardando momentos, histórias e margens
Cada mancha de pele morena castigada pelos deuses
Varizes verdes pulando pra fora querendo autonomia de mim

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Brinquedo da noite, diversão do dia




Avermelha a boca que é para afrontar a leis impregnadas na respiração diária
Pernas roxas de sucções de alma
Olhos fadigados, de ver e não entender
Mãos calejadas do manuseio dilacerado de uma enxada inchada e cheia de farpa
Frincha  alagada, soterrada de prazeres da humanidade socada no escuro
Corpo no abate de facas, cortes, sangue
Jogadas nas incoerências da vida
Dias e noites, com a borra nas íntimas e a cabeça nas fadas


domingo, 5 de janeiro de 2014

Brincadeira




As piores grades são aquelas que a gente não percebe o começo e nem o fim, estamos profundamente presos, brincando com o invisível para a liberdade inatingível

Mulheres do asfalto




De frente pra ela nossos olhares descansavam, a serenidade de um olhar cansado mas com vida.
O corpo de bela perfeição escondia uma fadiga das noites não dormidas!
A boca semi Aberta sussurrava o vento quente, que eu imaginava que depois de percorrer o corpo inteiro saia como um suspiro de algum tipo de esperança!!!
Eu não apresentava ameaças, até um certo tipo de conforto !
Existia alguma coisa entre o espaço do meu corpo e do dela, uma cumplicidade serena
De sabermos que somos mulheres de ruas, prostitutas do asfalto

Eu




A criança do lado pedindo atenção, e eu pedindo piedade pra vida! 
Pedindo pra que a vida não seja tão cruel, que respeite a carniça 

Eu




Meus pensamentos e meus sentimentos estão embaralhados, enigmáticos !!
Não consigo resolver a minha própria charada