quarta-feira, 19 de março de 2014

Pintura da saudade




Daquela janela eu consigo ver o balanço da árvore e o passar do trem
A lua sempre se encaixa no quadrante como se fosse um quadro 
Aquela janela é um recorte do nosso mundo,
Ela reflete nossos corpos e olhares se tornando cúmplice dos nossos mais profundos sentires
Ela aconchega meu corpo e segura minha cabeça entorpecida de desejo 
Em cima da pia e acalentada pela janela nos amamos noites
O limite era a lua que escutava os gemidos doce do teu corpo trêmulo 
Fomos aquarela viva dentro de um 
quadro que a janela recortava

Hoje passei do outro lado da janela tentando ver o quadro nosso das noites passadas
Ela estava aberta como se respirasse a saudade que eu sinto 
Não me acolheu, não me disse oi 
Ela era somente a janela de um prédio azul 
 

Dias sem Órgãos






Passado imperfeito 

O sorriso disfarça o caos de dentro
Está tudo bem eu repito e digo
Forço o olhar pra fora do corpo 
Tudo por um amor bendito. 

As pernas não aguentam o tranco
O esqueleto aguenta bravamente
A língua escorre na boca e tenta explicar e disfarçar a situação
A mente imóvel não tem mais o que dizer
Alma repousa do cansaço da dor
Um silêncio se dilata 
Tudo ficou quieto 
Tudo ficou 
E o passado se tornou imperfeito 

segunda-feira, 17 de março de 2014

Dias sem Órgãos




O Corpo
Dentro do meu corpo a aquarela se desfaz
todas as cores se diluem, os dias laranjas, vermelhos e amarelos
agora se misturaram e a tinta escura começa correr entre as vísceras
tomando conta de todos os canais
A respiração se fragmenta, e acontece uma ruptura entre os órgãos
Algo aconteceu, algo foi retirado
a decepção canta nos meus ouvidos um sim cadenciado e repetitivo
Se instaura um cheiro doce
a língua bloqueia as palavras de fugirem ou de se jogarem da boca
O suor agora corre junto ao sangue
as lágrimas encharcam o coração, que agora lentamente se afoga no seu próprio desespero
O corpo precisa correr e fugir
Mas permanece parado, sentindo todo o estar vivo em colapso
Os nervos em nó e as células se evaporam
O que se foi retirado precisa voltar, ou então esperar
se essa revolução vai maturar ou entrar em plena extinção

Dias sem Órgãos




Revolução de Estar

Eu quero amar, só pelo prazer de amar
Aprendi que amar não deveria
E se fosse para amar teria que ser como podia
Eu quero poder me jogar, sem medo e histerias
Ser alma ao  outro
Amar na potência da existência
Com todas as forças e as levezas
Não quero me prender, quero amar como plenitude de passáro
e profundeza de oceano
Quero brisa do carinho
Quero todos os seus anos na subjetividade das histórias
Quero saber tuas experiências sem me sentir dona delas
Quero que meu amor seja a nossa revolução